A Guerra do Golfo

Logo após ter-se envolvido numa desgastante guerra de fronteiras com o Irã, que estendeu-se de 1980 a 1988, o ditador iraquiano Saddam Hussein, pleiteando pelas armas o controle total do canal Chat al-Arab, resolveu ocupar o Kuwait, seu vizinho. Considerado um dos maiores produtores de petróleo do mundo, Saddam transformou o emirado, antiga reivindicação de Bagdá, na 19 província da Republica do Iraque. Iniciou-se então a sexta crise do petróleo do após- Guerra. O Kuwait, secionado da Mesopotâmia Otomana desde 1756, e protetorado dos britânicos desde 1899, é um pequeno pedaço de terra de 18 mil km2 estendido sobre um subsolo que abriga um verdadeiro mar de petróleo, que até hoje é um dos fornecedores estratégicos dos Estados Unidos. A ocupação dele pelos iraquianos fez com que os norte-americanos temessem que Saddam Hussein, caso viesse a expandir-se depois para a Arábia Saudita, pudesse querer açambarcar o controle de mais da metade do fornecimento do petróleo da região.

Conseguiram então fazer com que a ONU autorizasse uma operação militar visando a imediata desocupação iraquiana do Kuwait. Em 1991, liderando uma força multinacional (composta por ingleses, franceses, italianos e árabes, num total de 28 países) ,as tropas dos Estados Unidos reconquistaram o emirado, expulsando com facilidade as tropas iraquianas de volta para suas fronteiras. Ao bater em retirada os iraquianos incendiaram 232 poços de extração do Kuwait provocando uma das maiores catástrofes ecológicas do mundo, fazendo com que parte considerável da vida animal do Golfo Pérsico fosse destruída. As feridas abertas pela guerra iraquiana-iraniana de 1980-88, seguida da Primeira Guerra do Golfo de 1991, estão longe ainda de cicatrizarem. Na verdade, trava-se entre Saddam Hussein e os Estados Unidos um conflito pela hegemonia completa sobre aquela região. Luta que tem seus desdobramentos com a invasão do Iraque iniciada em 19 de março de 2003 pelas duas potências anglo-saxãs que ambicionam o controle definitivo das reservas petrolíferas do Oriente Médio.

As guerras do Golfo Pérsico

Tida por muitos séculos como uma região desimportante sob o ponto de vista econômico, a região do Golfo Pérsico, especialmente depois da IIª Guerra Mundial, passou a deter as atenções do mundo inteiro pela importância cada vez maior que o petróleo passou a assumir no século XX. A riqueza impressionante do seu subsolo, que acolhe mais de 60% das reservas de óleo cru conhecidas, terminou por gerar cobiças e desejos de conquista e dominação, fazendo do Golfo Pérsico uma interminável praça de guerra.

A região do Golfo Pérsico foi, por séculos a fio, uma área pobre, esquecida e abandonada do mundo. Só despertava o interesse das expedições arqueológicas, visto ser o epicentro das imemoriais culturas mesopotâmicas, nascidas nas margens dos rios Tigre e Eufrates (como a da caldéia, da assíria e da babilônia, consideradas matrizes da civilização). Historicamente, ela separa o mundo árabe dos persas, e, até 1918, fazia a fronteira entre o reino da Pérsia e o Império Turco Otomano, a verdadeira potência daquela região. Até então, o Império Britânico tinha uma pequena presença por lá, limitando-se a tutelar, desde o século XVIII, o emirado do Kuwait e controlar o estreito de Omã.

Algo espetacular, porém, ocorreu em 1908. No subsolo da Pérsia, encontrou-se um rico lençol de petróleo, o suficiente para que a Royal Navy, a esquadra britânica, substituísse, a partir de 1914, o carvão por óleo, como o principal combustível dos seus navios, tornando o Golfo Pérsico um lugar estratégico importantíssimo. Em 1917, os britânicos, em guerra contra o Império Turco, conquistam Bagdá, tornado-a sede do seu domínio sobre a antiga Mesopotâmia.

Novos lençóis de petróleo foram encontrados nos anos vinte e trinta do século XX no Iraque, no Kuwait, nos Emirados Árabes, e também na Arábia Saudita, sendo explorados por companhias britânicas e depois americanas. Entrementes, com a explosão da indústria automobilística e a subsequente revolução dos transportes, o petróleo do Golfo Pérsico passou ser mais importante ainda. Hoje, estima-se que o subsolo da região abrigue 2/3 das reservas mundiais, ou seja 696.2 bilhões de barris.

Principal importador e dono dos maiores contratos de exploração da região, os Estados Unidos, potência vencedora da Segunda Guerra Mundial, fizeram do Golfo Pérsico a sua área estratégica preferencial, concentrando ali um número impressionante de bases militares, terrestres, aéreas e navais. Para melhor protegê-la, apoiaram os regimes monárquicos locais (o reino saudita e o xarado do Irã), sobre os quais exerciam tutela política e militar.

Revolução e guerra

O controle ocidental sobre o Golfo Pérsico começou a ser ameaçado devido a dois acontecimentos espetaculares que estão entrelaçados: em 1979 o xarado do Irã, principal aliado de Washington, foi derrubado por uma revolução popular liderada pelos chefes religiosos iranianos, os aiatolás, que imediatamente voltam-se contra os americanos (denominado por eles como os agentes do “Grande Satã”). Quase em seguida, no ano de 1980, estoura a Primeira Guerra do Golfo, ocasião em que o vizinho Iraque, dominado por Saddam Hussein, ataca o Irã de surpresa, querendo aproveitar-se do caos em que o país se encontrava, devido à revolução xiita, então em andamento. A partir daquele momento, o Golfo Pérsico vai conhecer uma instabilidade quase que permanente.

A emergência do Iraque

Ocupada pelos britânicos em 1917, a Mesopotâmia - num acerto com os franceses combinado no Tratado de Sèvres, de 1920 - , tornou-se um protetorado da Coroa de Sua Majestade. Em 1921, os ocupantes entregaram o trono do Iraque ao rei Faisal I, da família Hachemita . a mesma que governava a Arábia e a Jordânia. Na verdade, tratava-se de um reino títere, pois os britânicos controlavam o exército, a força pública e os poços de petróleo (através da Irak Petroleum Company, fundada em 1927). Em 1932, juntando as províncias de Mossul, Bagdá e Basra, a monarquia iraquiana alcançou uma independência pró-forma sem que isso abalasse os interesses britânicos na região, mas voltou a ser reocupada por ordem de Londres em 1941, para evitar que os nazistas conquistassem seus poços de petróleo.

A monarquia Hachemita pró-britânica, foi finalmente derrubada por um sangrento golpe republicano em 1958, ocasião em que o rei Faisal II e seu filho Abdula foram mortos por ordem do general Karim Kassem. Naquela época, o Oriente Médio, tal como a maior parte do Terceiro Mundo colonizado, fora sacudido pela onda nacionalista que insurgiu-se contra o domínio dos impérios coloniais europeus. Desencadeado por primeiro no Egito, onde era forte a presença britânica, o movimento nacionalista árabe liderado por Gamal Nasser tomou o poder no Cairo em 1953 (oportunidade em que aboliram com a monarquia colaboracionista do rei Farouk). Desde então, o nasserismo (nacionalismo + autoritarismo) serviu como modelo para os demais militares nacionalistas do Oriente Médio na sua busca pela autodeterminação política e liberdade econômica, servindo como exemplo a ser seguido na Argélia, no Iraque, no Iêmen, no Sudão e na Líbia.

As ambições de Saddam Hussein

Durante os dez anos seguintes, de 1958 a 1968, o Iraque viu-se palco de terríveis lutas internas, nas quais os nacionalistas do partido Baaz (fundado antes na Síria, por Michael Aflak nos anos 40) conseguiram impor-se sobre seus rivais, a ferro e a fogo. Sendo um mosaico de etnias (árabes, assírios, iranianos, curdos, etc...) e de rivalidades religiosas (sunitas versus xiitas), o poder no Iraque quase sempre foi disputado a tiros e mantido por meio de repressão e de massacres. Duas medidas nacionalista então atingiram os interesses da companhias anglo-americanas: a primeira delas foi a nacionalização do petroleo iraquiano, ocorrida em 1966, e a segunda foi a estatização da Irak Petroleum, em 1972.

Um nome então começou a despontar dentro do partido Baaz, o de Saddam Hussein, um ex-pistoleiro que participara do fracassado atentado ao general Kassem (acusado pelos nacionalistas árabes de ser muito próximo dos comunistas), e que dali por diante, como chefe do CMR (o Comitê Militar Revolucionário, órgão dirigente supremo do Iraque) se manteria no poder por meios repressivos e violentos. Nos anos 70, ele tornou-se o verdadeiro homem-forte do Iraque, desenvolvendo, graças aos lucros do petróleo, uma intensa politica de modernização do país (ensino público e saúde gratuitas, investimentos em infra-estrutura, hospitais, pontes, estradas de rodagem e de ferro, inclusive energia nuclear, liberalização feminina, etc.).

A Guerra do Golfo começou em agosto de 1990 com a tentativa do Iraque de anexar seu vizinho Kuwait. Os Estados Unidos, que até então eram aliados do Iraque contra o Irã, decidiram intervir na região.

Com a guerra, o golfo pérsico foi fechado e os EUA perderam dois fornecedores de petróleo: Iraque e o Kuwait.

As especulações sobre o desenrolar da guerra levaram os preços do petróleo a subir ao patamar próximo aos US$ 40 atuais.

Um total de 467.539 militares foram mobilizados para a Operação Tempestade no Deserto. Houve 336 mortes entre as tropas norte-americanas e 467 soldados dos EUA ficaram feridos.

Cem navios, 1.800 aviões de combate e milhares de mísseis dos EUA também foram utilizados. Quatorze outros países também forneceram tropas de combate e 16 cederam aviões e navios.

Até 24 de fevereiro, os combates foram apenas aéreos. Naquela data, começaram as ações em terra, que duraram cem horas e acabaram com a rendição do Iraque.

As tropas dos EUA e seus aliados saíram da Arábia Saudita em direção ao Kuait, muitas delas via território iraquiano. Mas os EUA resolveram não avançar até Bagdá.

A Guerra do Golfo elevou a popularidade do então presidente George Bush, que alcançou os maiores índices de aprovação desde o final da Segunda Guerra Mundial.

Com a rendição de Saddam Husseim, os preços do petróleo voltaram a cair.

Guerra do Kuwait Golfo

Em julho de 1990, Saddam Hussein, homem forte do Iraque, acusou o Kuwait de causar a queda dos preços do petróleo e retomou antigas questões de limites, além de exigir indenizações. Como o Kuwait não cedeu, em 2 de agosto de 1990, tropas iraquianas invadiram o Kuwait, com a exigência do presidente Saddam Hussein de controlar seus vastos e valiosos campos de petróleo. Este acontecimento provocou uma reação imediata da comunidade internacional. Os bens do emirado árabe foram bloqueados no exterior e as Nações Unidas condenaram a invasão. Dois dias após a invasão (4 de Agosto), cerca de 6 mil cidadãos ocidentais foram feitos reféns e conduzidos ao Iraque, onde alguns deles foram colocados em áreas estratégicas. Nesse dia, o Conselho de Segurança da ONU impôs o boicote comercial, financeiro e militar ao Iraque. Em 28 de Agosto, Saddam respondeu a essa decisão com a anexação do Kuwait como a 19ª província do Iraque. Perante os desenvolvimentos do conflito, a ONU, em 29 de Agosto, autorizou o uso da força, caso o Iraque não abandonasse o território do Kuwait até 15 de Janeiro de 1991. Uma coalizão de 29 países, liderada pelos EUA, foi mobilizada. A atividade diplomática intensa fracassou, e em 17 de janeiro de 1991 um massivo ataque aéreo foi iniciado. Do conjunto de nações participantes, destacam-se os Estados Unidos, a Grã-Bretanha, a França, a Arábia Saudita, o Egito e a Síria. Quase no limite do prazo dado pela ONU para a retirada do Kuwait, o Irã e a União Soviética fizeram um último esforço para a paz.

Desenrolar da Guerra

O então presidente norte-americano George Bush visita as tropas norte-americanas na Arábia Saudita em 22 de novembro de 1990 (Dia de Ação de Graças).

Durante uma década o Iraque fora um aliado do Ocidente na guerra contra o Irã (1980-1988), um conflito que, para o líder iraquiano, parecia trazer uma excelente oportunidade para tirar dividendos dos países que havia protegido. O Iraque começou por invadir o Norte do Kuwait, para ter um acesso mais rápido ao mar, mas fracassou, embora não desistisse dos seus intentos. A riqueza do Kuweit era a saída ideal para a salvação das finanças do país e possibilitava o sonho de unir o mundo árabe em seu proveito, uma ideia que justificava com o passado glorioso dos Califas de Bagdá e com o apelo à hostilidade contra o velho inimigo israelita. Saddam Hussein tinha os meios para agir. Possuía um exército bem apetrechado, sentia-se apoiado pela população e contava com a falta de interesse do mundo ocidental. Ao contrário do que esperava, a comunidade internacional reagiu de imediato, e de uma forma bastante firme, à ofensiva iraquiana. Foram enviadas para a Arábia Saudita e para o Golfo Pérsico forças aliadas de cerca de 750.000 homens (lideradas pelos EUA, apoiadas pela ONU, pela OTAN e por outros Estados árabes) acompanhados de carros blindados, aviões e navios.

- Operação Tempestade no Deserto

Em 24 de janeiro, as forças aliadas haviam estabelecido a supremacia aérea, bombardeando as forças iraquianas que não podiam abrigar-se nos desertos do sul do Iraque. As forças da ONU, sob as ordens do comandante-em-chefe, general Norman Schwartzkopf, desencadearam a denominada "Operação Tempestade no Deserto" (nome por que ficou conhecida), que durou de 24 a 28 de fevereiro, na qual as forças iraquianas sofreram fragorosa derrota. No final da operação, o Kuwait foi libertado.

- A Mãe de Todas as Batalhas

Até 24 de Fevereiro os aliados bombardearam com alta tecnologia alvos militares no Kuwait e no Iraque e em seguida, até 2 de Março, lançaram uma operação terrestre que resultou na reconquista do Kuwait e na entrada no Iraque. A guerra em terra foi denominada por Hussein de "mãe de todas as batalhas". Em poucas semanas as defesas aéreas iraquianas estavam destruídas, bem como grande parte das redes de comunicações, dos edifícios públicos, dos depósitos de armamento e das refinarias de petróleo. Em 27 de Fevereiro, a maior parte da Guarda Republicana de elite do Iraque fora destruída. Em 28 de Fevereiro, o presidente norte-americano, George Bush, declarou o cessar-fogo. A independência do Kuwait fora restaurada, mas o embargo econômico das Nações Unidas ao Iraque tornou-se ainda mais severo.

Armamentos, Equipamentos e Estratégias

Pelo lado aliado, a guerra contou com importante equipamento eletrônico, principalmente os caças F-117, bombas guiadas a laser e mísseis teleguiados. O sistema de defesa iraquiano, que incluía armas químicas e biológicas, e foi planejado para lançar mísseis SCUD soviéticos, mostrou-se ineficaz diante do poder de fogo dos aliados, e seus mísseis foram interceptados, principalmente por mísseis terra-ar e antiaéreos. O Iraque não usou, como ameaçara, o gás de combate. Os mísseis SCUD que mandara lançar sobre Israel também falharam o seu intento de fazer com que este país entrasse no conflito, por forma a reunir o apoio das nações árabes. A superioridade tecnológica do Ocidente era avassaladora. Saddam estava isolado e em pouco tempo foi derrotado.

Desfecho

No final de fevereiro de 1991, Hussein, que havia ateado fogo em mais de 700 poços de petróleo kuwaitianos, aceitou os termos do cessar-fogo proposto pela ONU, mas zombava abertamente dele no princípio de 1993. Apesar da derrota, Saddam Hussein conseguiu manter-se no poder. Nesta guerra seguida atentamente pela comunicação social, em especial pela cadeia televisiva norte-americana CNN, registaram-se poucas baixas militares do lado da coligação liderada pelos EUA, comparativamente às baixas iraquianas. As perdas finais da guerra chegaram a 33.000 kuwaitianos mortos ou capturados, 234 entre os aliados e baixas de 85.000 a 100.000 soldados iraquianos.

À data do cessar-fogo (2 de Março de 1991), rebentou uma guerra civil no Iraque. Os xiitas (no Sul) e os Curdos (no Norte) foram esmagados pelos iraquianos, enquanto os Curdos civis fugiam para a Turquia e para o Irã, receando o regresso de massacres semelhantes aos de 1985. Fora do alcance do exército de Bagdá formaram-se campos de refugiados nas montanhas, onde as pessoas vivem no limiar da sobrevivência. O Ocidente, tão ansioso para libertar o Kuwait, nada fez para sustar a repressão aos curdos e xiitas, opositores de Hussein. No Kuwait, o país contabilizou os danos provocados pela guerra que afetou os seus poços de petróleo. Saddam Hussein, apesar de ter sido derrotado, continuou a ser o líder incontestado do Iraque, tendo sido um dos dirigentes mundiais há mais tempo no poder. Governava um país que sofria os efeitos devastadores de um embargo comercial, lançado para o forçar a revelar o local onde guardava o equipamento militar e nuclear. Este embargo foi parcialmente levantado em 1996, devido à pressão da opinião pública, chocada com o sofrimento das vítimas civis.

 
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