Conseguiram então fazer com que a ONU autorizasse uma operação
militar visando a imediata desocupação iraquiana do
Kuwait. Em 1991, liderando uma força multinacional (composta
por ingleses, franceses, italianos e árabes, num total de
28 países) ,as tropas dos Estados Unidos reconquistaram o
emirado, expulsando com facilidade as tropas iraquianas de volta
para suas fronteiras. Ao bater em retirada os iraquianos incendiaram
232 poços de extração do Kuwait provocando uma
das maiores catástrofes ecológicas do mundo, fazendo
com que parte considerável da vida animal do Golfo Pérsico
fosse destruída. As feridas abertas pela guerra iraquiana-iraniana
de 1980-88, seguida da Primeira Guerra do Golfo de 1991, estão
longe ainda de cicatrizarem. Na verdade, trava-se entre Saddam Hussein
e os Estados Unidos um conflito pela hegemonia completa sobre aquela
região. Luta que tem seus desdobramentos com a invasão
do Iraque iniciada em 19 de março de 2003 pelas duas potências
anglo-saxãs que ambicionam o controle definitivo das reservas
petrolíferas do Oriente Médio.
As guerras do Golfo Pérsico
Tida por muitos séculos como uma região desimportante
sob o ponto de vista econômico, a região do Golfo Pérsico,
especialmente depois da IIª Guerra Mundial, passou a deter as
atenções do mundo inteiro pela importância cada
vez maior que o petróleo passou a assumir no século
XX. A riqueza impressionante do seu subsolo, que acolhe mais de 60%
das reservas de óleo cru conhecidas, terminou por gerar cobiças
e desejos de conquista e dominação, fazendo do Golfo
Pérsico uma interminável praça de guerra.
A região do Golfo Pérsico foi, por séculos
a fio, uma área pobre, esquecida e abandonada do mundo. Só despertava
o interesse das expedições arqueológicas, visto
ser o epicentro das imemoriais culturas mesopotâmicas, nascidas
nas margens dos rios Tigre e Eufrates (como a da caldéia,
da assíria e da babilônia, consideradas matrizes da
civilização). Historicamente, ela separa o mundo árabe
dos persas, e, até 1918, fazia a fronteira entre o reino da
Pérsia e o Império Turco Otomano, a verdadeira potência
daquela região. Até então, o Império
Britânico tinha uma pequena presença por lá,
limitando-se a tutelar, desde o século XVIII, o emirado do
Kuwait e controlar o estreito de Omã.
Algo espetacular, porém, ocorreu em 1908. No subsolo da Pérsia,
encontrou-se um rico lençol de petróleo, o suficiente
para que a Royal Navy, a esquadra britânica, substituísse,
a partir de 1914, o carvão por óleo, como o principal
combustível dos seus navios, tornando o Golfo Pérsico
um lugar estratégico importantíssimo. Em 1917, os britânicos,
em guerra contra o Império Turco, conquistam Bagdá,
tornado-a sede do seu domínio sobre a antiga Mesopotâmia.
Novos lençóis de petróleo foram encontrados
nos anos vinte e trinta do século XX no Iraque, no Kuwait,
nos Emirados Árabes, e também na Arábia Saudita,
sendo explorados por companhias britânicas e depois americanas.
Entrementes, com a explosão da indústria automobilística
e a subsequente revolução dos transportes, o petróleo
do Golfo Pérsico passou ser mais importante ainda. Hoje, estima-se
que o subsolo da região abrigue 2/3 das reservas mundiais,
ou seja 696.2 bilhões de barris.
Principal importador e dono dos maiores contratos
de exploração
da região, os Estados Unidos, potência vencedora da
Segunda Guerra Mundial, fizeram do Golfo Pérsico a sua área
estratégica preferencial, concentrando ali um número
impressionante de bases militares, terrestres, aéreas e navais.
Para melhor protegê-la, apoiaram os regimes monárquicos
locais (o reino saudita e o xarado do Irã), sobre os quais
exerciam tutela política e militar.
Revolução
e guerra
O controle ocidental sobre o Golfo Pérsico começou
a ser ameaçado devido a dois acontecimentos espetaculares
que estão entrelaçados: em 1979 o xarado do Irã,
principal aliado de Washington, foi derrubado por uma revolução
popular liderada pelos chefes religiosos iranianos, os aiatolás,
que imediatamente voltam-se contra os americanos (denominado por
eles como os agentes do “Grande Satã”). Quase
em seguida, no ano de 1980, estoura a Primeira Guerra do Golfo, ocasião
em que o vizinho Iraque, dominado por Saddam Hussein, ataca o Irã de
surpresa, querendo aproveitar-se do caos em que o país se
encontrava, devido à revolução xiita, então
em andamento. A partir daquele momento, o Golfo Pérsico
vai conhecer uma instabilidade quase que permanente.
A emergência do Iraque
Ocupada pelos britânicos em 1917, a Mesopotâmia - num
acerto com os franceses combinado no Tratado de Sèvres, de
1920 - , tornou-se um protetorado da Coroa de Sua Majestade. Em 1921,
os ocupantes entregaram o trono do Iraque ao rei Faisal I, da família
Hachemita . a mesma que governava a Arábia e a Jordânia.
Na verdade, tratava-se de um reino títere, pois os britânicos
controlavam o exército, a força pública e os
poços de petróleo (através da Irak Petroleum
Company, fundada em 1927). Em 1932, juntando as províncias
de Mossul, Bagdá e Basra, a monarquia iraquiana alcançou
uma independência pró-forma sem que isso abalasse os
interesses britânicos na região, mas voltou a ser reocupada
por ordem de Londres em 1941, para evitar que os nazistas conquistassem
seus poços de petróleo.
A monarquia Hachemita pró-britânica, foi finalmente
derrubada por um sangrento golpe republicano em 1958, ocasião
em que o rei Faisal II e seu filho Abdula foram mortos por ordem
do general Karim Kassem. Naquela época, o Oriente Médio,
tal como a maior parte do Terceiro Mundo colonizado, fora sacudido
pela onda nacionalista que insurgiu-se contra o domínio dos
impérios coloniais europeus. Desencadeado por primeiro no
Egito, onde era forte a presença britânica, o movimento
nacionalista árabe liderado por Gamal Nasser tomou o poder
no Cairo em 1953 (oportunidade em que aboliram com a monarquia colaboracionista
do rei Farouk). Desde então, o nasserismo (nacionalismo +
autoritarismo) serviu como modelo para os demais militares nacionalistas
do Oriente Médio na sua busca pela autodeterminação
política e liberdade econômica, servindo como exemplo
a ser seguido na Argélia, no Iraque, no Iêmen, no Sudão
e na Líbia.
As ambições
de Saddam Hussein
Durante os dez anos seguintes, de 1958 a 1968, o
Iraque viu-se palco de terríveis lutas internas, nas quais os nacionalistas do
partido Baaz (fundado antes na Síria, por Michael Aflak nos
anos 40) conseguiram impor-se sobre seus rivais, a ferro e a fogo.
Sendo um mosaico de etnias (árabes, assírios, iranianos,
curdos, etc...) e de rivalidades religiosas (sunitas versus xiitas),
o poder no Iraque quase sempre foi disputado a tiros e mantido por
meio de repressão e de massacres. Duas medidas nacionalista
então atingiram os interesses da companhias anglo-americanas:
a primeira delas foi a nacionalização do petroleo iraquiano,
ocorrida em 1966, e a segunda foi a estatização da
Irak Petroleum, em 1972.
Um nome então começou a despontar dentro do partido
Baaz, o de Saddam Hussein, um ex-pistoleiro que participara do fracassado
atentado ao general Kassem (acusado pelos nacionalistas árabes
de ser muito próximo dos comunistas), e que dali por diante,
como chefe do CMR (o Comitê Militar Revolucionário, órgão
dirigente supremo do Iraque) se manteria no poder por meios repressivos
e violentos. Nos anos 70, ele tornou-se o verdadeiro homem-forte
do Iraque, desenvolvendo, graças aos lucros do petróleo,
uma intensa politica de modernização do país
(ensino público e saúde gratuitas, investimentos em
infra-estrutura, hospitais, pontes, estradas de rodagem e de ferro,
inclusive energia nuclear, liberalização feminina,
etc.).
A Guerra do Golfo começou em agosto de 1990 com a tentativa
do Iraque de anexar seu vizinho Kuwait. Os Estados Unidos, que até então
eram aliados do Iraque contra o Irã, decidiram intervir na
região.
Com a guerra, o golfo pérsico foi fechado e os EUA perderam
dois fornecedores de petróleo: Iraque e o Kuwait.
As especulações sobre o desenrolar da guerra levaram
os preços do petróleo a subir ao patamar próximo
aos US$ 40 atuais.
Um total de 467.539 militares foram mobilizados
para a Operação
Tempestade no Deserto. Houve 336 mortes entre as tropas norte-americanas
e 467 soldados dos EUA ficaram feridos.
Cem navios, 1.800 aviões de combate e milhares de mísseis
dos EUA também foram utilizados. Quatorze outros países
também forneceram tropas de combate e 16 cederam aviões
e navios.
Até 24 de fevereiro, os combates foram apenas aéreos.
Naquela data, começaram as ações em terra, que
duraram cem horas e acabaram com a rendição do Iraque.
As tropas dos EUA e seus aliados saíram da Arábia
Saudita em direção ao Kuait, muitas delas via território
iraquiano. Mas os EUA resolveram não avançar até Bagdá.
A Guerra do Golfo elevou a popularidade do então presidente
George Bush, que alcançou os maiores índices de aprovação
desde o final da Segunda Guerra Mundial.
Com a rendição de Saddam Husseim, os preços
do petróleo voltaram a cair.
Guerra do Kuwait Golfo
Em julho de 1990, Saddam Hussein, homem forte do
Iraque, acusou o Kuwait de causar a queda dos preços do petróleo e
retomou antigas questões de limites, além de exigir
indenizações. Como o Kuwait não cedeu, em 2
de agosto de 1990, tropas iraquianas invadiram o Kuwait, com a exigência
do presidente Saddam Hussein de controlar seus vastos e valiosos
campos de petróleo. Este acontecimento provocou uma reação
imediata da comunidade internacional. Os bens do emirado árabe
foram bloqueados no exterior e as Nações Unidas condenaram
a invasão. Dois dias após a invasão (4 de Agosto),
cerca de 6 mil cidadãos ocidentais foram feitos reféns
e conduzidos ao Iraque, onde alguns deles foram colocados em áreas
estratégicas. Nesse dia, o Conselho de Segurança da
ONU impôs o boicote comercial, financeiro e militar ao Iraque.
Em 28 de Agosto, Saddam respondeu a essa decisão com a anexação
do Kuwait como a 19ª província do Iraque. Perante os
desenvolvimentos do conflito, a ONU, em 29 de Agosto, autorizou o
uso da força, caso o Iraque não abandonasse o território
do Kuwait até 15 de Janeiro de 1991. Uma coalizão de
29 países, liderada pelos EUA, foi mobilizada. A atividade
diplomática intensa fracassou, e em 17 de janeiro de 1991
um massivo ataque aéreo foi iniciado. Do conjunto de nações
participantes, destacam-se os Estados Unidos, a Grã-Bretanha,
a França, a Arábia Saudita, o Egito e a Síria.
Quase no limite do prazo dado pela ONU para a retirada do Kuwait,
o Irã e a União Soviética fizeram um último
esforço para a paz.
Desenrolar da Guerra
O então presidente norte-americano George Bush visita as
tropas norte-americanas na Arábia Saudita em 22 de novembro
de 1990 (Dia de Ação de Graças).
Durante uma década o Iraque fora um aliado do Ocidente na
guerra contra o Irã (1980-1988), um conflito que, para o líder
iraquiano, parecia trazer uma excelente oportunidade para tirar dividendos
dos países que havia protegido. O Iraque começou por
invadir o Norte do Kuwait, para ter um acesso mais rápido
ao mar, mas fracassou, embora não desistisse dos seus intentos.
A riqueza do Kuweit era a saída ideal para a salvação
das finanças do país e possibilitava o sonho de unir
o mundo árabe em seu proveito, uma ideia que justificava com
o passado glorioso dos Califas de Bagdá e com o apelo à hostilidade
contra o velho inimigo israelita. Saddam Hussein tinha os meios para
agir. Possuía um exército bem apetrechado, sentia-se
apoiado pela população e contava com a falta de interesse
do mundo ocidental. Ao contrário do que esperava, a comunidade
internacional reagiu de imediato, e de uma forma bastante firme, à ofensiva
iraquiana. Foram enviadas para a Arábia Saudita e para o Golfo
Pérsico forças aliadas de cerca de 750.000 homens (lideradas
pelos EUA, apoiadas pela ONU, pela OTAN e por outros Estados árabes)
acompanhados de carros blindados, aviões e navios.
- Operação Tempestade no
Deserto
Em 24 de janeiro, as forças aliadas haviam estabelecido a
supremacia aérea, bombardeando as forças iraquianas
que não podiam abrigar-se nos desertos do sul do Iraque. As
forças da ONU, sob as ordens do comandante-em-chefe, general
Norman Schwartzkopf, desencadearam a denominada "Operação
Tempestade no Deserto" (nome por que ficou conhecida), que durou
de 24 a 28 de fevereiro, na qual as forças iraquianas sofreram
fragorosa derrota. No final da operação, o Kuwait
foi libertado.
- A Mãe de Todas as Batalhas
Até 24 de Fevereiro os aliados bombardearam com alta tecnologia
alvos militares no Kuwait e no Iraque e em seguida, até 2
de Março, lançaram uma operação terrestre
que resultou na reconquista do Kuwait e na entrada no Iraque. A guerra
em terra foi denominada por Hussein de "mãe de todas
as batalhas". Em poucas semanas as defesas aéreas iraquianas
estavam destruídas, bem como grande parte das redes de comunicações,
dos edifícios públicos, dos depósitos de armamento
e das refinarias de petróleo. Em 27 de Fevereiro, a maior
parte da Guarda Republicana de elite do Iraque fora destruída.
Em 28 de Fevereiro, o presidente norte-americano, George Bush, declarou
o cessar-fogo. A independência do Kuwait fora restaurada, mas
o embargo econômico das Nações Unidas ao Iraque
tornou-se ainda mais severo.
Armamentos, Equipamentos
e Estratégias
Pelo lado aliado, a guerra contou com importante
equipamento eletrônico,
principalmente os caças F-117, bombas guiadas a laser e mísseis
teleguiados. O sistema de defesa iraquiano, que incluía armas
químicas e biológicas, e foi planejado para lançar
mísseis SCUD soviéticos, mostrou-se ineficaz diante
do poder de fogo dos aliados, e seus mísseis foram interceptados,
principalmente por mísseis terra-ar e antiaéreos. O
Iraque não usou, como ameaçara, o gás de combate.
Os mísseis SCUD que mandara lançar sobre Israel também
falharam o seu intento de fazer com que este país entrasse
no conflito, por forma a reunir o apoio das nações árabes.
A superioridade tecnológica do Ocidente era avassaladora.
Saddam estava isolado e em pouco tempo foi derrotado.
Desfecho
No final de fevereiro de 1991, Hussein, que havia
ateado fogo em mais de 700 poços de petróleo kuwaitianos, aceitou
os termos do cessar-fogo proposto pela ONU, mas zombava abertamente
dele no princípio de 1993. Apesar da derrota, Saddam Hussein
conseguiu manter-se no poder. Nesta guerra seguida atentamente pela
comunicação social, em especial pela cadeia televisiva
norte-americana CNN, registaram-se poucas baixas militares do lado
da coligação liderada pelos EUA, comparativamente às
baixas iraquianas. As perdas finais da guerra chegaram a 33.000
kuwaitianos mortos ou capturados, 234 entre os aliados e baixas
de 85.000 a 100.000
soldados iraquianos.
À data do cessar-fogo (2 de Março de 1991), rebentou
uma guerra civil no Iraque. Os xiitas (no Sul) e os Curdos (no Norte)
foram esmagados pelos iraquianos, enquanto os Curdos civis fugiam
para a Turquia e para o Irã, receando o regresso de massacres
semelhantes aos de 1985. Fora do alcance do exército de Bagdá formaram-se
campos de refugiados nas montanhas, onde as pessoas vivem no limiar
da sobrevivência. O Ocidente, tão ansioso para libertar
o Kuwait, nada fez para sustar a repressão aos curdos e xiitas,
opositores de Hussein. No Kuwait, o país contabilizou os danos
provocados pela guerra que afetou os seus poços de petróleo.
Saddam Hussein, apesar de ter sido derrotado, continuou a ser o líder
incontestado do Iraque, tendo sido um dos dirigentes mundiais há mais
tempo no poder. Governava um país que sofria os efeitos devastadores
de um embargo comercial, lançado para o forçar a revelar
o local onde guardava o equipamento militar e nuclear. Este embargo
foi parcialmente levantado em 1996, devido à pressão
da opinião pública, chocada com o sofrimento das vítimas
civis.